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Posts Tagged ‘política não institucional’

Vote na Web é um projeto virtual que coloca para votação aberta alguns projetos de lei que estão em tramitação no congresso nacional, para que o público em geral vote se é contra ou a favor, deixe comentários e propostas de mudanças. Uma plataforma bem feita, simples, mas que aponta para formas de participação direta do cidadão na política.

O instrumento e, principalmente, o debate em torno dos projetos de lei podem ser qualificados e aprimorados, mas certamente aponta para os caminhos da participação cidadã. Esta é uma ferramenta muito interessante para ser utilizada pelos próprios políticos institucionalizados, como forma de consulta a seu eleitorado.

Entrem e vejam pois é muito interessante: http://www.votenaweb.com.br

A ferramenta e a proposta são brasileiras, mas já brilhou os olhos de outros países, inclusive da ONU. Veremos se disseminar coisas como esta.

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O chamado projeto de lei de iniciativa popular, que está em foco na mídia por conta do Projeto Ficha Limpa, consiste em uma ferramenta legislativa em que por meio da apresentação de um abaixo-assinado à Câmara dos Deputados pode-se propor um projeto de lei, independente de um deputado ou senador. O abaixo assinado deve ser subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por, pelo menos, cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.

É necessário ressaltar que trata-se apenas de uma ferramenta para se propor projetos de lei, de forma que os PLs  de Iniciativa Popular seguem a mesma tramitação no congresso que os projetos de iniciativa de um parlamentar. São submetidos à aprovação dos deputados, senadores e do Presidente da República como todos os outros projetos de lei.

Desta forma, se pensarmos em termos do projeto Ficha Limpa, o recolhimento de 1,6 milhões de assinaturas possibilitou, mais do que propor um projeto de lei, gerar pressão política e projeção na mídia. A verdade é que a ferramenta institucional existente é muito limitada, pois o maior desafio do projeto não era que ele fosse proposto como lei, mas sim gerar a mobilização e a projeção que se gerou por meio do recolhimento das assinaturas.

Assim, é preciso reconhecer as limitações da ferramenta de iniciativa popular e colocar sua radicalização na agenda política. O Projeto de Lei nº 4718/2004, da Comissão de Legislação Participativa da Câmara de Deputados, tem o objetivo de modificar a lei original e ampliar os poderes dos abaixo-assinados populares, mas é fácil perceber que esta não é uma causa que consegue se projetar como o Ficha Limpa conseguiu. Por curiosidade, é interessante saber que apenas quatro projetos até hoje foram apresentados à Câmara Federal por meio de iniciativa popular.

Existe uma outra ferramenta criada 2001 para aprofundar as formas de participação da sociedade civil na legislatura, com a criação da Comissão de Legislação Participativa (CLP), que torna possível que entidades civis – como Organizações não Governamentais (ONGs), associações e sindicatos – apresentem projetos de lei. Mas esta é uma ferramenta ainda muito desconhecida e com brechas em seu funcionamento.

Assim, as formas de iniciativa popular e de democracia participativa institucionalizadas precisam ser radicalizadas. O Projeto Ficha Limpa aponta para os caminhos possíveis: o uso da internet e da cultura política digital.

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O Marco Civil da Internet Brasileira está passando por um processo de colaboração e construção coletiva na internet, ao modelo do que se espera para o próprio mundo virtual.

Na reportagem abaixo, um exemplo das novas formas de participação direta que a cultura digital está tornando viável, que devem aprimorar a democracia, tornando-a menos representativa e mais participativa. Estes modelos de participação virtuais devem ser combinados com espaços de participação presencial como conselhos deliberativos e orçamentos participativos.

Formas de participação democráticas não partidárias e não institucionalizadas são os caminhos para a radicalização da democracia e a construção de um sistema participativo.


Cidadão pode ajudar a criar lei

Governo apresenta proposta de legislação para a internet brasileira sobre direitos e deveres online

Uma palavra define a internet atual: colaboração. Não se concebe mais a web sem a participação do internauta em blogs, no Twitter ou encontrando amigos no Orkut.

Se tudo hoje é colaborativo, por que um projeto de lei que definirá as linhas gerais para todas as decisões judiciais sobre a internet deveria ser diferente? Ontem, o Ministério da Justiça apresentou a minuta do Marco Civil da internet brasileira, um anteprojeto de lei com 34 artigos que estabelece direitos e deveres de cidadãos, empresas e governo em relação às suas ações online. Nos próximos 45 dias, qualquer cidadão pode se cadastrar no site Cultura Digital e opinar sobre o conteúdo do projeto – é possível dar sugestões sobre cada parágrafo e até sugerir uma redação diferente para os artigos.

O Marco Civil não trata de crimes – ou seja, não há mudança com relação a fraudes virtuais ou pirataria. Ele estabelece quais são os direitos fundamentais dos internautas do país e define como princípios básicos a liberdade de expressão e o direito à privacidade e aos dados pessoais.

– Com a lei, as decisões judiciais não poderão ignorar esses princípios. O Marco Civil é um balizador – explica o gestor do projeto no Ministério da Justiça, Paulo Rená.

Segundo o advogado especializado em direito eletrônico Renato Opice Blum, mais de 200 projetos tramitam no Congresso. A diferença é que o Marco Civil vem sendo mais debatido pela sociedade – nos últimos 45 dias, foram 822 sugestões no site.

A principal mudança prática é a forma como o internauta pode pedir a correção ou retirada de conteúdos ofensivos online (veja quadro). Rená espera que o projeto seja enviado à Câmara até o fim de junho.

Por RODRIGO MÜZELL
rodrigo.muzell@zerohora.com.br

Publicado em: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2867157.xml&template=3898.dwt&edition=14457&section=1008

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Um texto do Rodrigo Savazoni que mostra exemplos e a essência das potencialidade que a internet e a tecnologia digital estão criando no campo político. Este é um fenômeno que aind aestá engatinhando, mas que provocará revoluções em nossas vidas. A tecnologia digital revolucionou o trabalho, está revolucionando os meios de comunicação e irá criar novs formas de atuação política, mais democráticas e participativas.

Abaixo o texto publicado no Le Monde Diplomatique Brasil, em janeiro, por Rodrigo Savazoni

Democracia, inovação e cultura digital
Não é só a sociedade e a economia que sentem o impacto da digitalização e da rede mundial de computadores. A política começa a se transformar. Junto com inúmeras outras propostas, o Fórum da Cultura Digital Brasileira é um exemplo de como a democracia pode se beneficiar da inovação
por Rodrigo Savazoni
I

A política vaticina que os cem primeiros dias de um presidente são definitivos. É nessa época que o novo governante marca posição e anuncia à sociedade suas prioridades – que, com o avanço e a complexidade da democracia contemporânea, geralmente são baseadas em um programa já apresentado durante o período eleitoral.

Com Barack Obama foi assim. Defensor da comunicação livre e distribuída durante a disputa que o levou à Casa Branca, uma de suas primeiras iniciativas foi reformular o site da presidência americana, licenciando todos os conteúdos produzidos em Creative Commons, um modelo flexível de gestão de direitos autorais desenvolvido na Universidade de Stanford, que permite ao autor definir a utilização de sua produção circulante na internet.

Obama demonstrava ser um presidente inovador, apontando para um governo aberto e transparente, superando o período sombrio que marcou a administração de George W. Bush.

No mundo das redes horizontais, no entanto, a inovação está em toda a parte. E quem realmente criou algo interessante para os cem primeiros dias do governo Obama foi Jim Gilliam, um ativista multimídia, produtor de documentários guerrilheiros da Brave New Films, como Wal-Mart – O Alto Custo do Preço Baixo, dirigido por Robert Greenwald.

Gilliam imaginou como a internet poderia auxiliar no mapeamento dos principais problemas americanos. Valendo-se da abertura proposta por Obama, criou o website White House 2 (Casa Branca 2), no endereço www.whitehouse2.org. No princípio, o site seria justamente para que qualquer americano pudesse elencar os desafios e descrever o que considerava as maiores prioridades para o país. Gilliam esperava constituir uma governança virtual que ofereceria ao presidente Obama um poderoso instrumento de consulta popular.

O site foi ao ar, mas não foi incorporado ao conjunto de estratégias de comunicação do presidente. A proposta continua e, atualmente, é um ambiente em que dez mil norte-americanos debatem as prioridades para o governo atual.

Recupero o exemplo de White House 2, porque ele é a expressão de um modelo de se fazer política propiciado pela rede mundial de computadores. Duas de suas características são extremamente representativas do contexto político atual: 1) White House 2 é um projeto individual e apartidário, que se torna coletivo por meio da interação e da conversação on-line; 2) preocupa-se centralmente em produzir informação aberta e transparente, que subsidie a prática social, não interagindo diretamente com as estruturas de poder da democracia representativa convencional.

II

Aqui, chegamos a um ponto em que uma pausa se faz necessária.

No início dos anos 1990, era certo que a internet superaria os meios eletrônicos de comunicação de massa – ineficazes porque não propiciavam o diálogo – tornando-se o ambiente ideal para a realização da democracia. Autores de diferentes correntes ideológicas passaram a se debruçar sobre o tema da democracia digital. Muita teoria foi produzida. Acreditava-se, por exemplo, que o cidadão teria a possibilidade de votar em qualquer projeto de lei, colocando abaixo o modelo de representação moderno.

A essa coqueluche do início somou-se o fato de que a ciência política também se concentrava com maior intensidade sobre o tema da democracia deliberativa.

Sivaldo Pereira afirma, no artigo Promessas e desafios da deliberação online: traçando o panorama de um debate, que além da “proximidade temporal, a democracia deliberativa e democracia digital possuem também algumas preocupações de fundo em comum que podem ser sintetizadas em dois anseios compartilhados por ambas:

1) minimizar a crise de representatividade que afeta o sistema democrático moderno e

2) utilizar processos mediados de comunicação para este fim.”

Para as esquerdas, até esse momento, questões como participação social nos processos decisórios e a colaboração entre diferentes atores sociais para a construção de políticas públicas não se constituíam como valores inquestionáveis.

Não à toa, a compreensão da importância desses dois pilares para a estruturação de sistemas democráticos é algo recente e constitui-se como foco de disputa entre diferentes correntes de pensamento progressista, algumas delas ainda reféns de um modelo centralizador de planejamento.

Com a chegada da internet, devido principalmente às possibilidades democratizantes por ela abertas, participação e colaboração começam a se diluir e a ser incorporadas ao vocabulário dominante das organizações e movimentos sociais.

Outra palavra que ganha força nesse mesmo contexto é transparência. Esse conceito parte da ideia de que é obrigação de um sistema político democrático prover ao cidadão o maior número de informações, para que assim as decisões possam ser tomadas. Sem transparência, canais de participação e colaboração podem se resumir a um mero artifício para neutralizar conflitos.

Nesses últimos quinze anos, no entanto, o debate concentrou-se mais em teorias e anseios que em ações práticas, a não ser por alguns poucos projetos-piloto. Essa tendência, porém, parece estar se revertendo e a inovação começa a ganhar espaço.

Fim da pausa.

III

Conhecer as iniciativas de democracia digital em curso é uma boa forma de entender o que está em jogo e como esse contexto mutante se configura.

Recentemente, a convite do Google Brasil, do Instituto Overmundo e da Fundação Getúlio Vargas, participei de uma roda de conversa sobre Cidadania Digital, que gerou uma articulação inédita entre atores que vêm militando nesse campo. Não sabemos onde essa confluência nos levará, mas o diálogo já tem sido extremamente enriquecedor.

No documento produzido pelo Instituto Overmundo e pelo Centro de Tecnologias e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas, há um guia bem completo das iniciativas mais importantes em curso atualmente, no Brasil e nos Estados Unidos.

Pinço, para efeito demonstrativo, algumas pelas quais mais me interesso. Prefiro concentrar-me em exemplos brasileiros, como forma de afirmar a nossa inventividade.

O projeto WikiCrimes (http://wikicrimes.org) é um fenômeno mundial. Trata-se de um mashup (uma plataforma híbrida) de dados e mapa. No caso, sobre crimes, informados colaborativamente, pelos cidadãos usuários ou a partir de bases de dados públicas. Essas informações aparecem em um mapa de forma que as pessoas possam visualizar os locais onde há maior incidência de determinada ação ilícita. Os usos são muitos. Desde subsidiar secretários de segurança pública até orientar a população a evitar determinados comportamentos em regiões que são reconhecidamente perigosas.

A liderança desse trabalho é do professor Vasco Furtado, que coordena o grupo de Engenharia do Conhecimento da Universidade Federal de Fortaleza. Todo o projeto é desenvolvido dentro dessa instituição, por estudantes que participam do grupo de pesquisa.

Recentemente, alguns deles, sob supervisão de Furtado, lançaram a empresa WikiMaps, que pretende oferecer essa plataforma de integração de informações a quem se interessar por produzir “mapas sociais”.

Um outro projeto que vale nota, surgido recentemente, é o Transparência HackDay, reuniões que aproximam gestores públicos, jornalistas e produtores de informação dos desenvolvedores (os hackers). Nos três últimos meses, foram realizados três encontros, dois deles em São Paulo e um em Brasília. Dessa recombinação de conhecimentos, surgem discussões, mas principalmente aplicativos que têm como objetivo melhorar a democracia e a ação pública (seja uma denúncia, uma reivindicação ou um instrumento de gestão).

O Transparência HackDay é organizado pela empresa Esfera, uma das instituições que integra o coletivo da Casa da Cultura Digital (www.casadaculturadigital.com.br).

Entre os aplicativos surgidos no projeto, o mais interessante e bem-sucedido até agora é o projeto SACSP (http://sacsp.mamulti.com), que integra a um mapa dados sobre o Serviço de Atendimento ao Cidadão de São Paulo.

O SACSP usa dados do site oficial da prefeitura e produz análises instantâneas. Seu sucesso gerou inicialmente reações negativas dentro da empresa municipal de processamento de dados. Logo, no entanto, o desenvolvedor responsável pela plataforma foi chamado para uma conversa e deve ser financiado pela própria empresa para continuar oferecendo esse serviço – que, entre outros méritos, permite ao cidadão ver que não está denunciando sozinho.

IV

Uma nova pausa se faz necessária para digressão.

O exemplo de Obama sempre é lembrado quando o assunto é democracia digital. O atual presidente estadunidense inovou? Sim, sem dúvida. Além do repaginado site da Casa Branca, já lançou outros dois importantes projetos de internet. Entre eles, o Data.gov (http://www.data.gov). Nesse site, o governo torna públicos os dados em formatos livres, que permitem aos cidadãos produzir cruzamentos e gerar novas informações de seu interesse.

Estranho, porém, é a intelectualidade brasileira não ter despertado nem compreendido a liderança de nosso país na era digital. Os estrangeiros já enxergam isso. Prova é a recente entrevista de Alexandre Mathias com Clay Shirky, em O Estado de S.Paulo. Shirky, escritor de Here comes everybody, é um dos autores mais comemorados dos Estados Unidos.

Na conversa com Mathias, ele destaca o papel central do Brasil na incorporação dos valores emergentes da cultura digital. Não fala de técnica, mas de política.

“O Brasil é o primeiro país a se alinhar inteiramente a um modelo de compartilhamento como forma de progresso econômico, cultural e social. E isso aparece em diferentes níveis, desde o mais baixo – como a cultura do funk de favela, que pressupõe o compartilhamento em sua essência – até o mais alto, com o presidente Lula dizendo que prefere soluções open source para os problemas do país. Há outros países que estão se desenvolvendo desta forma, mas nenhum outro está tão à frente quanto o Brasil”, diz Shirky.

O Brasil tem hoje uma das mais vibrantes e bem-sucedidas comunidades de software livre do planeta. Desde o início do governo Lula, ela exerce enorme influência nas políticas, consolidando valores da ideologia hacker no coração de Brasília.

Outro lado dessa mesma moeda é a sociedade brasileira. Os números mostram que o país é pioneiro na adoção de redes de relacionamento on-line, como Orkut, Facebook e Twitter – cujo segundo idioma mais utilizado é o português. É por meio dessas plataformas que a cultura digital se desenvolve, o que levou um dos pioneiros militantes da liberdade na rede, John Perry Barlow, criador da Eletronic Frontier Foundation, a dizer que o Brasil é “a sociedade em rede ideal”.

Obama chegou em 2008. Em 2005 o site do Ministério da Cultura já licenciava seus conteúdos em Creative Commons e em 2006, todos os conteúdos produzidos pela Radiobras, a empresa pública de comunicação, passaram a ser distribuídos por meio dessa licença.

No livro CulturaDigital.BR, o qual organizei com Sérgio Cohn, discutimos esse pioneirismo brasileiro com pensadores de diferentes colorações ideológicas e especialidades. Entre eles, o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, autor do livro Politizar as Novas Tecnologias.

“O meu maior problema com o Brasil é que existe uma riqueza enorme e há um déficit de pensamento sobre o potencial dessa cultura nessa nova configuração que a gente vive e, sobretudo, no novo papel que esse país assume nessa redistribuição geopolítica pós-derretimento dos mercados”, afirma dos Santos. “A chamada inteligência brasileira, com raras exceções, ainda não percebeu a mudança evidente que está ocorrendo, nem as possibilidades que estão se abrindo – e isso eu acho gravíssimo do ponto de vista da política. A diferença com relação ao primeiro mundo vai ser a possibilidade de engatar com a cultura daqui, junto com essa tecnologia, fazendo uma outra coisa, que não aquilo que o centro, digamos, que o mundo euro-americano fez”.

Se a intelectualidade brasileira não percebe as mudanças, a classe dirigente parece começar a se deslocar nesse sentido, mesmo que vagarosamente.

Atualmente, três processos em cursos mostram-se determinantes para o que viremos a ser:

1) a política pública para universalizar o acesso à banda larga, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promete como ato final de seu governo;

2) a revisão da lei de direitos autorais, incorporando direitos dos usuários, hoje o principal campo de conflito entre a cultura que emerge das redes interconectadas e a velha indústria da intermediação do século XX;

3) a construção de um marco civil, um marco de direitos, dos usuários de internet, proposto pelo Ministério da Justiça.

Esses três elementos articulados resultam em uma conjuntura que pode levar o Brasil a apresentar respostas às mudanças sociais em curso no planeta em uma velocidade incomparável à de outras nações.

Fim da pausa.

V

Muitos dos projetos de democracia digital, inclusive os citados acima, baseiam-se em um nível de interatividade ainda bastante primitivo. São mecanismos simples de deliberação, em que o cidadão pode escolher entre uma ou outra opção. Ou seja, votar.

Esse é o caso do orçamento público digital de Belo Horizonte (MG). Iniciativa pioneira, o OPDigital da capital mineira permitiu aos cidadãos escolherem uma obra para ser executada pela prefeitura. Foi um plebiscito virtual inédito no mundo.

A proposta do Fórum da Cultura Digital Brasileira, que teve início em junho de 2009 e segue em desenvolvimento é de outra natureza. O que se pretende com esse processo é aprofundar a interatividade e chegar a um instrumento colaborativo de construção de políticas públicas.

O Estado brasileiro, redemocratizado, tem se valido de uma série de mecanismos para garantir que a voz da sociedade se faça diretamente representar no processo de construção das políticas de transformação do país. Dentre tais mecanismos, destacam-se as Conferências Nacionais, realizadas de forma a respeitar o Pacto Federativo (com etapas municipais, estaduais e federal) e servindo como elemento estruturante de políticas setoriais.

Em sua maioria, as conferências estão atreladas a um conselho que é responsável por garantir a implantação das diretrizes traçadas pela sociedade e pela fiscalização das políticas que venham a ser propostas e desenvolvidas.

Além de conferências, outros mecanismos de participação são as consultas públicas (presenciais e virtuais), as audiências públicas, os seminários e os fóruns.

Os fóruns são espaços de discussão, articulação, cooperação e planejamento coletivo, geralmente de caráter consultivo em relação ao poder público, e têm por objetivo reunir diferentes atores de um ou mais segmentos sociais, podendo ser de caráter permanente ou temporário.

O Fórum da Cultura Digital Brasileira se insere nesse rol de iniciativas de participação social, mas se difere de todas elas por utilizar de forma radical a internet em sua metodologia.

Na verdade, o fórum é todo estruturado sobre a plataforma CulturaDigital.BR (www.culturadigital.br), um site de rede social que já conta, em dezembro de 2009, com mais de 3.200 participantes, 160 grupos de discussão e cerca de 300 blogs ativos.

Nessa rede, os cidadãos debatem, de forma aberta e horizontal, questões da era digital.

Em novembro, durante o seminário internacional do Fórum, que tornou presenciais encontros que já vinham ocorrendo no mundo virtual, documentos com diretrizes para políticas de cultura digital foram produzidos e entregues ao Ministro da Cultura, Juca Ferreira.

Em seguida, eles foram devolvidos à plataforma e seguem em discussão.

Para este ano, uma série de novas iniciativas estão sendo elaboradas, entre elas a proposta de criação de uma governança colaborativa para a Cultura Digital, com a constituição de um conselho baseado na rede social CulturaDigital.Br, o qual terá também acento no Conselho Nacional de Políticas Culturais.

Passados os primeiros meses de experiência, é possível afirmar que a principal característica do Fórum da Cultura Digital Brasileira – e isso estava previsto desde o início – é ele ser um espaço de expansão e não de síntese.

Os impactos da tecnologia digital são gigantescos e pouco compreendidos. Há, portanto, a necessidade de encontrar quem são os interlocutores aptos e dispostos a pensar políticas para essa era de transição, sabendo que não estarão em um movimento que tem começo, meio e fim.

Rodrigo Savazoni é Diretor da FLi Multimídia, empresa que promove o uso de novas tecnologias para fins sociais, e do Laboratório Brasileiro de Cultura Digital, organizações que integram a Casa da Cultura Digital (www.casadaculturadigital.com.br). Integra a Coordenação Executiva do Fórum da Cultura Digital Brasileira e organizador do livro CulturaDigital.BR (Editora Azougue) e disponível para download gratuito. Escreve no Trezentos (www.trezentos.blog.br).

Palavras chave: internet, democracia, política, Fórum da Cultura Digital Brasileira

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