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Posts Tagged ‘movimentos sociais’

A Folha de São Paulo publicou no dia 12 de dezembro de 2012 um texto fundamental para uma visão mais qualificada sobre o fenômeno das redes sociais. Uma crítica ao alarde em torno da capacidade das redes e das mídias sociais de produzirem novas formas de ativismo político e social. O autor, Malcolm Gladwell, em um tom saudosista, faz reflexões interessantes sobre a diferença entre as formas tradicionais de mobilização e ativismo e os novos fenômenos produzidos pelo avanço da cultura digital.

 

O texto, intitulado “A revolução não será tuitada”, começa com uma narrativa de uma mobilização do início do movimento negro no EUA, na Carolina do Norte. Ao final, coloca: “e tudo aconteceu sem e-mail, mensagens de texto, Facebook ou Twitter”.

A revolta na Moldova em 2009, no leste europeu, e os protestos estudantis em Teerã são citados como casos em que se coloca uma grande responsabilidade sob a redes sociais, como ferramenta fundamental para promover tais mobilizações. No entanto, este “evangelismo digital” merece muitas críticas, pois o autor afirma que em Moldova o número de contas no twitter é muito pequeno e que, no caso de Teerã, os comentários colocados nas redes sociais eram de forma geral de pessoas no Ocidente, em inglês. Assim, o autor aponta para uma supervalorização do papel da redes sociais nestes eventos, que conseguem muito mais alardear informações entre aqueles que acessam as ferramentas sociais existentes do que de fato mobilizar os diretamente envolvidos com os fatos.

Acho que a mesma conclusão pode ser utilizada para os recentes casos de protestos no Líbia e no Egito. Certamente o papel das redes sociais como espaço de articulação dos líderes locais é superestimado, tanto pelo ainda restrito acesso à internet, quanto à sua capacidade de organizar movimento estruturados, conforme o autor discute neste artigo.

Continuando, o autor se coloca a pergunta: são mesmo os usuários do Facebook e do Twitter a grande esperança e promessa de atores políticos e sociais no próximos tempos? As mobilizações e organizações sociais que marcaram os anos 50/60/70 não existem mais, a cultura cidadã é outra hoje. E a mudança não é apenas porque não existem mais os grande movimento pelos direitos civis, mas também porque o vínculo das pessoas com os movimentos sociais mudou, aquele tipo de ativismo e ação política marcava a vida de uma pessoa. Ela escolhia se envolver no movimento e fazia daquilo boa parte de sua vida e de sua identidade. O autor, nesta supervalorização do ativismo tradicional, coloca: “ativismo que desafia o status quo não é para bundas-moles”. A defesa pelos direitos civis na segunda metade do século XX era um movimento de “vínculos fortes”.

O argumento do texto é justamente de que o ativismo associado via internet é construído em torno de vínculos fracos. “É por isso que se pode ter mil ‘amigos’ no Facebook, coisa impossível na vida real”. Mas apesar do início saudosista do texto, o autor desenvolve sua argumentação de forma bastante ponderada e justa, afirmando também que de diversas formas isso é maravilhoso, pois há força em muitos vínculos fracos: “a internet nos permite explorar a potência dessas formas de conexão distante com eficiência maravilhosa. É sensacional para a difusão de inovações, para a colaboração interdisciplinar, para integrar compradores e vendedores e para as funções logísticas das conquistas amorosas. Mas vínculos fracos raramente conduzem a ativismo de alto risco”.

O autor busca colocar os pingos nos “is” em relação ao uso das redes sociais, mencionando sua imensa capacidade de mobilização em campanhas, mas sempre afirmando que os vínculos são naturalmente fracos, de forma que deve ser utilizado apenas para mobilizar as pessoas para atividades que não lhe cobrem muito esforço, como doar sangue, R$10 ou algumas horas do dia.

 

O autor menciona então uma segunda característica marcante nas organizações baseadas em redes sociais: sua organização baseada em redes, de forma não hierárquica e não centralizada. Estas formas de organização e mobilização são horizontais, sem uma autoridade, com crescimento rizomático e de forma extremamente flexível. O autor compara os modelos de organização em rede e em estruturas hierárquicas e afirma: “Carecendo de uma estrutura centralizada de liderança e de linhas de autoridade claras, as redes encontram dificuldades reais para chegar a consensos e estabelecer metas. Não conseguem pensar de modo estratégico; são cronicamente propensas a conflitos e erros.”

Assim, disciplina a estratégia são elementos que as redes sociais não conseguem oferecer, pois promovem entidades para a flexibilidade e para a adaptabilidade. Desta forma, o texto constrói uma visão mais clara e coerente sobre o papel das redes sociais no campo político. Não se pode esperar que as redes sociais reproduzam em maior escala e amplitude o que foram os movimento sociais de defesa de direitos civis. Acredito que ainda estamos conhecendo estas ferramentas e que ainda vamos criar uma cultura políticas e de mobilização própria para estes espaços, mas certamente serão formas mais dinâmicas e menos compromissadas de mobilização social. As redes sociais tornam mais fácil aos ativistas se expressarem e, mais difícil, que essa expressão tenha algum impacto.

Cabe, por fim, colocar apenas que as redes sociais não são todas a internet e que os fenômenos tratados no texto não esgotam as possibilidades de novas formas de atuação política via internet.

Ps. não posso colocar aqui o texto integral, mas não é difícil de achar reproduções dele na internet.

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