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Os avanços tecnológicos possibilitados pela computação estão criando uma revolução nos modos de produção? A internet e o mundo digital estão mudando a forma de trabalhar e o modo como produzimos hoje? Estas novas tecnologias vão acabar com o modelo industrial? Estas mudanças vão mudar o jogo de poder econômico, político e social no capitalismo mundial?

Estas são as questões centrais em discussão no tema da Pós-Modernidade. A chamada “Revolução Informacional”, termo criado por Jean Lojkine, faz referência ao conjunto de transformações que estão ocorrendo nos países e sociedades mais ricas economicamente em função do desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação. A Revolução Informacional é colocada no mesmo plano de importância e impacto que a Revolução Industrial para o século XVIII, sendo esta fundadora da Modernidade e aquela da Pós-Modernidade. Mais que isso, a Revolução Informacional é alardeada como uma das grandes revoluções tecnológicas que mudaram (sendo essa ainda em curso) o modo de reprodução social e material da humanidade, como o surgimento da agricultura, a invenção das cidades e dos motores à combustão.

Interessante é tentarmos entender a Revolução Informacional por meio da comparação com os padrões instaurados pela Revolução Industrial, que podemos apresentar, de forma esquemática, da seguinte maneira:

  • Em relação à natureza do trabalho, a produção industrial é marcada pela manufatura de produtos, pela manipulação de materiais; que se desloca, na produção informacional, para o tratamento e processamento de informações, marcados pelo conceito de trabalho imaterial.

  • Em relação ao tipo de maquinário, a produção industrial era marcada por aparatos que se propunham a serem uma extensão de nossos músculos e membros; na informacional as máquinas são como extensões de nosso sistema nervoso.

  • Em relação à organização do trabalho, o modelo industrial baseado no sistema de fábrica com divisão do trabalho, em contraposição a um modelo mais flexível, baseado em grupos de trabalho.

  • Em relação à configuração social, uma marca importante em relação às mudanças informacionais é o uso da tecnologia da informação como um grande mediador das relações humanas, em especial marcando a comunicação pela simultaneidade e pela amplificação de sua capacidade.

Interessante ainda mencionar que a Revolução Informacional é frequentemente marcada pelos “pós”: organização pós-fordista do trabalho, a pós-modernidade, máquinas pós-mecânicas, etc. Este fato demonstra ainda a falta de clareza em relação a este processo em curso, que se reflete também na falta de respostas certeiras para as perguntas colocadas acima.

É muito tentador olhar para os grandes avanços que estamos vivenciando no campo tecnológico e querermos dizer que estamos presenciando uma revolução como foi a industrial. Mas algumas questões críticas devemos nos colocar: será se essa revolução está mesmo em seu auge neste momento? Na primeira metade do século XX houveram grandes invenções que se disseminaram e também mudaram a forma de produção e a vida em si, como o telefone, a televisão, o carro. Não estamos neste momento apenas vivendo a ampliação de uma revolução que já se iniciou no começo do século?

Além disso, falta-nos ainda uma visão crítica sobre esse processo. A história já nos mostrou que toda revolução no modo de produção gera novos padrões de desigualdade, injustiça e dominação. Qual é o modo de exclusão pós-modernista?

Caros,

Socializo abaixo o Levantamento sobre o Perfil dos Grupos de Consumo no Brasil, realizada pelo Instituto Kairós, com participação do Instituto Pólis.

O objetivo da pesquisa, que teve início em agosto de 2009, foi fazer um levantamento das características, dinâmicas de funcionamento, instrumentos utilizados e desafios vivenciados pelas experiências de consumo coletivo e responsável no Brasil.

Para saber mais sobre a pesquisa e sobre essas experiências de consumo coletivo, clique aqui e baixe o documento final do levantamento.

Coloquei na lista de vídeos, que fica disponível na barra lateral direita, uma entrevista do Canal Futura com uma das organizadoras da Rede Ecológica, um grupo de compras coletivas que funciona no Rio de Janeiro. Abaixo o link para acessar diretamente o vídeo no Youtube.

Conexão Futura 09/06/2011 – Consumo coletivo

Os diversos ataques a sites do governo brasileiro na semana passada tiveram como efeito não desejado, pelos seus autores, o retorno do debate sobre a regulação da internet e dos crimes virtuais. Ressuscitaram então a chamada medida Azeredo, um projeto de lei que se propõe a regulamentar o mundo virtual e tornar este um “espaço com leis”. Desde 2008 este projeto vem sendo debatido na sociedade com fortes reações de especialistas e movimentos sobre os abusos do projeto, que pode tornar a internet regulada, burocrática, controlada e vigiada. Os recentes ataques hackers dão força a um projeto como este apesar das fortes críticas que lhe foram feitas.

Coloco abaixo alguns dos comentários que foram feitos na mídia e em blogs especializados:

trecho 1:

Em nome do combate à pedofilia, projeto de lei criminaliza práticas triviais na internet com até 4 anos de prisão

Ronaldo Lemos* – O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO – O Senado acaba de aprovar o projeto de lei do senador Eduardo Azeredo sobre crimes digitais. Em nome do combate à pedofilia online, o projeto aproveitou para criminalizar também práticas triviais na internet e criar um sistema de vigilância privada sobre os internautas, criando uma série de obrigações para os provedores. Condutas triviais, como acessar um site em desacordo com a autorização de seu titular, desbloquear um telefone celular ou resgatar as músicas pagas legitimamente de um iPod passam a ser crimes punidos com pena de até 4 anos de reclusão. Curiosamente, dentre os mais de 40 dispositivos constantes do projeto apenas um deles trata da pedofilia, tema que merece toda atenção e combate, mas não justifica a criminalização da rede no Brasil.

A aprovação do projeto de lei de cibercrimes pelo Senado levanta ao menos duas reflexões importantes. A primeira é sobre como as leis são feitas (já dizia Bismarck que o melhor é não saber). A segunda diz respeito ao papel da internet para o futuro do sistema político. […]

É interessante como em todos os momentos a justificativa do projeto baseou-se em informações desencontradas. Um exemplo é o argumento da pedofilia, mencionado acima, da qual o projeto trata em apenas um artigo. […]

do Estadão.com.br: Suplementos – Aliás 13 de julho de 2008

trecho 2:

…nosso desafio, ao combater o crime na rede, será o de fazê-lo sem transformar a internet em um estado policial, onde quase tudo é proibido ou suspeito. se isso acontecer, perderemos a rede. o que que ninguém, em sã consciência e vivendo pelo menos no presente, quer. o que significa que o debate sobre crime on-line, sua prevenção, nossos direitos e responsabilidades, vai ser fundamental nos próximos anos da web. e do brasil.

Do Blog “dia a dia, bit a bit”: Na web, o crime é mais “seguro”

trecho 3:

[…] no brasil, o ritmo de crescimento do crime na internet é assustador: em 2006, foram julgadas 7.000 ações criminais. até setembro de 2007, já tinham sido julgadas 15.000. este crescimento é um argumento poderoso do pessoal que defende a criminalização de certas condutas na internet, como proposto pelo senador azeredo em projeto que põe, no mesmo saco, ladrões de contas bancárias na rede e gente que compartilha música. e o caso da conta do sarkozy vai acabar entrando na argumentação, também. […]

e o que a lei azeredo tenta fazer? em boa parte, neste caso, tirar a responsabilidade dos bancos nas invasões de seus sistemas de informação, jogando parte do problema para os provedores e usuários [e correntistas]. normal, considerando que as perdas das instituições financeiras podem estar na casa das muitas dezenas de milhões por ano… daí que, segundo muita gente boa, os bancos aproveitaram a guerra à pedofilia na rede [que era o objetivo inicial de projetos tramitando no congresso] e movimentaram sua bancada para injetar, na legislação, os controles que queriam ver na rede. resultado? o projeto de lei do senador azeredo, relatado pelo senador mercadante, foi aprovado em marcha batida no senado e está esperando a câmara começar a trabalhar para passar por lá tão rapidamente quanto.

Do Blog “dia a dia, bit a bit”: Finanças: na internet quem está seguro?

trecho 4:

[…] O projeto do Azeredo atende aos interesses de banqueiros, de intermediários que querem viver das imprecisões de sua lei e da comunidade de vigilância. A idéia é repassar os custos da segurança privada dos bancos para todos os internautas. Como bem demontrou o professor e criptógrafo da UNB, Pedro Rezende, o projeto cria novas situações que permitirão aos bancos contestarem sua obrigação de indenizar pessoas que tiveram suas contas fraudadas.

do blog de Sergio Amadeu (Comentários)

trecho 5:

[…] Esta lei não combate pedofilia, não protege nenhum usuário da rede contra scams, phisings e vírus, não impede pirataria ou violação de sistemas. Ela impede, sim, que a gente produza traduções colaborativas – por exemplo as fanfics, que são produzidas ás montanhas aqui na rede. Traduções, respostas e versões virais? Nananinanão, filho. Gostou de A máquina somos nós? Problema seu, guarde para si. Ela proíbe que a gente coloque trechos de reportagens bacanas e instrutivas na rede – e que aprenda com isso. […]

do blog LadyBug Brasi

 

Reproduzo abaixo entrevista minha publicada na página web do Instituto Pólis sobre Bancos Comunitários e Moedas Sociais. Quem estiver interessado em se aprofundar no assunto, segue o link para fazer download da publicação Novos Paradigmas de Produção e Consumo – Experiências Inovadoras, que traz dois estudos de caso que eu fiz relacionados ao tema: Banco Palmas e Banco dos Cocais.

Novos Paradigmas de Produção e Consumo

Moedas Sociais e os Bancos Comunitários ainda estão num vácuo jurídico e legal

Em entrevista, o técnico do Instituto Pólis Adriano Borges Costa explica o que são os bancos comunitários e os principais desafios destas experiências hoje

O que é uma moeda social?

A moeda social possui duas principais funções dentro de uma comunidade. Uma econômica, e outra cultural, ligada à identidade local. Primeiramente, a moeda social é um circulante local, ou seja uma moeda que só vale para aquela região. O objetivo dela é estimular e fortalecer a economia local, os pequenos comércios: fazer com que em uma região, onde não há muito dinheiro (dinheiro mesmo, de papel, moeda mesmo), exista um objeto de meio de troca para possibilitar ou facilitar as trocas.

Um exemplo: tem uma pessoa nesta comunidade que faz pão, tem uma estrutura simples e ela consegue produzir uma quantidade razoável de pães por dia, mas de forma artesanal, não industrial. Na rural, há um produtor, que vive na subsistência, mas cuja produção consegue gerar uma sobra além do seu consumo familiar. Ambos possuem sobras das suas produções, e ambos também gostariam de ter a parte que sobrou do outro, e no entanto os dois não comercializam e não fazem essa troca (o excedente de hortaliças e o excedente de pães). Eles não trocam justamente porque não tem dinheiro naquela comunidade, falta o meio de troca, falta dinamismo na economia local. Era essa a função inicial do dinheiro: potencializar as trocas de produtos, de forma que os produtos possam ser mais úteis.

Então a moeda social entra para isso: para estimular esse tipo de troca que não acontece justamente porque há uma escassez de moeda naquela comunidade. Ela estimula o comércio local, estimula que as pessoas compram e vendam na sua própria região. Ela estimula que alí se crie circuitos curtos de comercialização, produção e consumo e deixe de ser uma economia exclusivamente dependente de outras regiões.

 

A outra função da moeda social, como falei, é a da identidade naquela região. Toda moeda social tem um nome vinculado a um elemento local. No Banco dos Cocais, por exemplo, a moeda se chama “cocal”, pois naquela região tem toda uma tradição das quebradeiras do coco. Todo o Banco é voltado pra identidade regional, e a moeda é a forma mais concreta desse simbolismo.

A que modelo econômico ela se contrapõe?

Tem um contraponto fundamental entre o sistema hegemônico e o que essas experiencias de bancos comunitários trazem de proposta: a prática financeira. A lógica hegemônica, dos grandes bancos, é captar a poupança da população em geral, e emprestar buscando as taxas de inadimplência mais baixas possíveis. O problema é que essa lógica faz com que as pessoas que conseguem empréstimos sejam justamente as pessoas que não precisam deste empréstimo, pois possuem garantias para oferecer, estudos técnicos e mostram que já, previamente, podem pagar este empréstimo. E quem precisa de empréstimo? Aquele que já tem recurso?

Outro ponto: essa lógica da moeda de circulação livre gera concentração da presença de moedas em algumas regiões.

Explico: Temos uma moeda nacional que circula livremente por todas as regiões do país e isso faz com que haja uma concentração de moeda pela concentração econômica, que faz com que a produção se concentre em localizações que possuem infraestrutura e condições privilegiadas de produção. Isto concentra a economia em determinadas regiões e acaba com as pequenas produções locais. – Temos no Brasil regiões onde se concentra a produção e grandes áreas praticamente sem produção comercial, que vivem de subsistência. Isto se reflete na situação de moedas: a moeda chega nestas regiões com definhamento econômico por sistemas de transferência de renda e voltam automaticamente para as regiões de concentração econômica, através de consumo de produtos e serviços. Isso acontece também por meio dos créditos, pois os bancos tem suas estruturas de captação de poupança nestas pequenas cidades, mas os empréstimos são sempre feitos para pessoas ou empresas que estão nas grandes cidades e que têm condições prévias de pagar.

 

Como os bancos comunitários se contrapõem à isso?

Os bancos comunitários fazem contraponto à isso a medida em que fazem pequenos empréstimos baseados em sistemas de avaliação que usam formas de verificação da capacidade de pagamento baseado na reputação que o sujeito tem na comunidade. Não consultam o SPS ou o SERASA. O sistema de verificação é baseado na conversa com a comunidade. Isso faz com que um mundo de pessoas tenham acesso ao crédito que no sistema bancário não tem porque não tem garantias, não tem bens para dar de garantia, não tem emprego, não tem fiador…

O banco comunitário por sua vez, prevê que o crédito seja pago, porque disso depende a sua sustentabilidade financeira, no entanto faz uma análise qualitativa da capacidade do sujeito de pagar estes empréstimos e não exige taxas absurdas de retorno e excluem a maioria da população.

Além disso, os bancos comunitários levam os serviços bancários a comunidades indígenas, a pequenas cidades, às periferias das grandes cidades onde não existem bancos comerciais. Os bancos comerciais não chegam lá porque não é viável economicamente montar uma agencia, um gerente, com todas as regalias que os bancos criam em suas agencias.

Como são as políticas públicas neste campo?

Não existem políticas públicas para os bancos comunitários. Os bancos comunitários aproveitam, “na tangente”, algumas políticas públicas que foram criadas. Uma delas é o bolsa família, uma vez que muitas pessoas hoje podem sacar seus benefícios nos bancos comunitários, não precisando sair de suas comunidades. Uma outra é a Política Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, que destina recursos para microcréditos, mas que não foi feita para bancos comunitários, é um modelo mais comercial, mas os bancos comunitários souberam aproveitar essa política e acessar estes recursos. Além disso, há os projetos ligados à economia solidária, no entanto não existe uma política pública voltada para os bancos comunitários. Os bancos comunitários não tem uma figura jurídica própria, uma regulamentação específica. As moedas sociais foram reconhecidas pelo banco central como uma forma legal, no entanto não possui uma regulamentação específica, então hoje os bancos comunitários estão num vácuo jurídico e legal de atuação. Existe uma lei elaborada pela Luiza Erundina que está em tramitação, desde 2007, que busca regulamentar os bancos comunitários. No entanto está parada, não foi aprovada.

Qual é o novo paradigma que se propõe?

O principal paradigma que é quebrado pelos bancos comunitários, e pela economia solidária como um todo, é o paradigma da maximização de retorno sobre o capital. Através do microcrédito, por exemplo, não se busca maximizar o retorno sobre este capital emprestado. Só de quebrar este pressuposto conceitual e prático estamos incluindo uma série de pessoas que estavam excluídas daquele sistema de créditos.

A segunda quebra é reconhecer a importância, a capacidade que existe em iniciativa que surgem em pequenas comunidades e como isso pode tornar o sistema mais eficiente, de produção, de consumo, de crédito. É olhar para a comunidade e ver que alí, iniciativas que surgem “de baixo para cima”, a partir de atores no local, podem ser mais eficientes em termos de produtividade sistêmica dos resultados, ao invés de iniciativas que são “de cima para baixo”, comerciais, em larga escalada, padronizadas e executadas e implantadas em uma tacada só.

Na lógica da economia solidária, iniciativas comunitárias tem legitimidade para atuar no local, tem acúmulo, respeito e capacidade de mobilização que a gente pode chamar, apesar da contradição que tem no nome, de “capital comunitário”.

A Folha de São Paulo publicou no dia 12 de dezembro de 2012 um texto fundamental para uma visão mais qualificada sobre o fenômeno das redes sociais. Uma crítica ao alarde em torno da capacidade das redes e das mídias sociais de produzirem novas formas de ativismo político e social. O autor, Malcolm Gladwell, em um tom saudosista, faz reflexões interessantes sobre a diferença entre as formas tradicionais de mobilização e ativismo e os novos fenômenos produzidos pelo avanço da cultura digital.

 

O texto, intitulado “A revolução não será tuitada”, começa com uma narrativa de uma mobilização do início do movimento negro no EUA, na Carolina do Norte. Ao final, coloca: “e tudo aconteceu sem e-mail, mensagens de texto, Facebook ou Twitter”.

A revolta na Moldova em 2009, no leste europeu, e os protestos estudantis em Teerã são citados como casos em que se coloca uma grande responsabilidade sob a redes sociais, como ferramenta fundamental para promover tais mobilizações. No entanto, este “evangelismo digital” merece muitas críticas, pois o autor afirma que em Moldova o número de contas no twitter é muito pequeno e que, no caso de Teerã, os comentários colocados nas redes sociais eram de forma geral de pessoas no Ocidente, em inglês. Assim, o autor aponta para uma supervalorização do papel da redes sociais nestes eventos, que conseguem muito mais alardear informações entre aqueles que acessam as ferramentas sociais existentes do que de fato mobilizar os diretamente envolvidos com os fatos.

Acho que a mesma conclusão pode ser utilizada para os recentes casos de protestos no Líbia e no Egito. Certamente o papel das redes sociais como espaço de articulação dos líderes locais é superestimado, tanto pelo ainda restrito acesso à internet, quanto à sua capacidade de organizar movimento estruturados, conforme o autor discute neste artigo.

Continuando, o autor se coloca a pergunta: são mesmo os usuários do Facebook e do Twitter a grande esperança e promessa de atores políticos e sociais no próximos tempos? As mobilizações e organizações sociais que marcaram os anos 50/60/70 não existem mais, a cultura cidadã é outra hoje. E a mudança não é apenas porque não existem mais os grande movimento pelos direitos civis, mas também porque o vínculo das pessoas com os movimentos sociais mudou, aquele tipo de ativismo e ação política marcava a vida de uma pessoa. Ela escolhia se envolver no movimento e fazia daquilo boa parte de sua vida e de sua identidade. O autor, nesta supervalorização do ativismo tradicional, coloca: “ativismo que desafia o status quo não é para bundas-moles”. A defesa pelos direitos civis na segunda metade do século XX era um movimento de “vínculos fortes”.

O argumento do texto é justamente de que o ativismo associado via internet é construído em torno de vínculos fracos. “É por isso que se pode ter mil ‘amigos’ no Facebook, coisa impossível na vida real”. Mas apesar do início saudosista do texto, o autor desenvolve sua argumentação de forma bastante ponderada e justa, afirmando também que de diversas formas isso é maravilhoso, pois há força em muitos vínculos fracos: “a internet nos permite explorar a potência dessas formas de conexão distante com eficiência maravilhosa. É sensacional para a difusão de inovações, para a colaboração interdisciplinar, para integrar compradores e vendedores e para as funções logísticas das conquistas amorosas. Mas vínculos fracos raramente conduzem a ativismo de alto risco”.

O autor busca colocar os pingos nos “is” em relação ao uso das redes sociais, mencionando sua imensa capacidade de mobilização em campanhas, mas sempre afirmando que os vínculos são naturalmente fracos, de forma que deve ser utilizado apenas para mobilizar as pessoas para atividades que não lhe cobrem muito esforço, como doar sangue, R$10 ou algumas horas do dia.

 

O autor menciona então uma segunda característica marcante nas organizações baseadas em redes sociais: sua organização baseada em redes, de forma não hierárquica e não centralizada. Estas formas de organização e mobilização são horizontais, sem uma autoridade, com crescimento rizomático e de forma extremamente flexível. O autor compara os modelos de organização em rede e em estruturas hierárquicas e afirma: “Carecendo de uma estrutura centralizada de liderança e de linhas de autoridade claras, as redes encontram dificuldades reais para chegar a consensos e estabelecer metas. Não conseguem pensar de modo estratégico; são cronicamente propensas a conflitos e erros.”

Assim, disciplina a estratégia são elementos que as redes sociais não conseguem oferecer, pois promovem entidades para a flexibilidade e para a adaptabilidade. Desta forma, o texto constrói uma visão mais clara e coerente sobre o papel das redes sociais no campo político. Não se pode esperar que as redes sociais reproduzam em maior escala e amplitude o que foram os movimento sociais de defesa de direitos civis. Acredito que ainda estamos conhecendo estas ferramentas e que ainda vamos criar uma cultura políticas e de mobilização própria para estes espaços, mas certamente serão formas mais dinâmicas e menos compromissadas de mobilização social. As redes sociais tornam mais fácil aos ativistas se expressarem e, mais difícil, que essa expressão tenha algum impacto.

Cabe, por fim, colocar apenas que as redes sociais não são todas a internet e que os fenômenos tratados no texto não esgotam as possibilidades de novas formas de atuação política via internet.

Ps. não posso colocar aqui o texto integral, mas não é difícil de achar reproduções dele na internet.

O estudo “Verdades, Mentiras & Mídias Sociais”, apresentado na Social Media Week 2011, busca entender o quanto as mídias sociais interferem nas tradicionais, e vice-versa. Mais que isso, o estudo também busca também apresentar elemento a questões como: as mídias sociais são pautadas pelos jornais, pelas revistas e pela TV? Ou não, elas são independentes e de certa forma já estão inclusive pautando estes meios? Por trás desta pergunta está também a questão ainda sem resposta clara: as mídias sociais podem ser uma fonte independente, democrática e confiável de informação?

Como toda novidade que surge de forma muito rápida e profunda, as mídia e redes sociais também passam por um período de “deslumbramento”, de grande entusiasmo. Seus impactos ainda não são claros, suas potencialidades ainda estão sendo experimentadas. E o resultado da pesquisa surpreendeu: as mídias sociais ainda são totalmente pautadas pela mídia tradicional, reverberando assuntos que são aprofundados apenas na cobertura de canais de TV, jornais, revistas e grandes portais de conteúdo. O inverso, no entanto, não acontece, apesar de esse tipo de mídia se consolidar cada vez mais como “pulso do que a população está pensando, fazendo e falando”, como foi apresentado.

O estudo mostra que assuntos como o filme A Origem e o Polvo Paul (aquele da copa) apesar de se manterem por um longo período entre os tópicos de destaque nas redes sociais, sua cobertura pelas mídias tradicionais ainda é pontual e não acompanha a curva de interesse demonstrado pelo público.

Ou seja, a conclusão apresentada é de que as ferramentas ainda despertam mais interesse do que as coisas que acontecem nela. Clique aqui para baixar a apresentação da pesquisa.

Os novos meios de comunicação e interação digitais ainda são ferramentas muito novas, cujas consequências e usos ainda são imprevisíveis. Ainda não sabemos como as redes sociais podem modificar e aprofundar a relação governo-cidadão. Até o momento avançamos apenas em ferramentas de transparência. E os impactos da cultura digital sobre a propriedade intelectual? E como podemos reinventar a educação a partir das ferramentas que se abrem com a internet e as tecnologias da informação e conhecimento. Certamente mais do que fazer pesquisas no Wikipedia…

Vamos seguindo tentando entender este fenômeno…

Reproduzo abaixo o artigo de Luiz Felipe Pondé, publicado na Folha de São Paulo. O texto traz uma visão polêmica e forte para os desdobramentos do que está acontecendo no Egito, sempre com as alfinetadas desnecessárias do autor ao setor esquerdista, mas considero fundamental a leitura (não a concordância) deste texto para uma visão mais qualificada da questão. Boa leitura!

QUIBES, QUEIJOS E VINHOS

Quem está na rua no Egito quer emprego; se fala em “liberdade”, é porque aprendeu com o Ocidente.

LUIZ FELIPE PONDÉ (Folha de São Paulo – 07 fevereiro 2011)

OS ÁRABES foram às ruas. Os paquistaneses (muçulmanos, mas não árabes) vivem nas ruas pedindo a cabeça de algum inimigo do Islã. Pensar que estamos diante da “aurora” de um novo mundo árabe democrático é uma piada.

Imagino como alguns “sacerdotes da religião do povo” (populismo para intelectuais de esquerda?) devem ficar emocionados, lembrando (fantasiando?) os grandes dias do Maio de 68 na França.

Se lermos as colunas de Nelson Rodrigues (editora Agir) da época, encontraremos questões como: afinal, o que querem esses estudantes parisienses se não cortaram nenhuma cabeça? Que revolução é essa que acabou em croissant?

De uma hora para outra, a moçada francesa voltou para casa para tomar vinho e comer “un petit fromage”. Centenas de teses pelo mundo tentam até hoje explicar a razão de a “revolução do desejo” de Maio de 68 ter acabado de repente, sem nenhuma razão.

Diferentemente dos jovens americanos, que tinham um motivo concreto para protestar (a horrível Guerra do Vietnã), os meninos franceses estavam cheios de tédio, naquela vidinha chata de gente rica, e resolveram brincar de “comuna de Paris”.

No fundo, queriam “o direito” de transar com as colegas nos dormitórios da universidade, alguns meninos queriam “o direito” de transar com outros meninos (sob a bênção filosófica do mestre Foucault, que, aliás, no começo da Revolução Islâmica do Irã, tinha frisson por ela), e alguns, como sempre, não queriam mesmo é ir para a aula e virar gente grande.

Mas os “sacerdotes do povo” fizeram seu trabalho e transformaram aquela festa em grande fenômeno histórico. A verdade é que não se sabe no que vai dar essa “revolução do quibe” no mundo árabe. Pessoalmente, espero que consigam viver melhor e se livrem dos “partidos de deus”.

Mas o que é viver melhor? Para mim, que não sou relativista e acho a democracia liberal ocidental o melhor sistema político conhecido e gente que amarra toalha na cabeça para gritar “morte aos infiéis!” gente atrasada, viver melhor é poder ganhar dinheiro e pagar suas contas, consumir coisas que queremos consumir, transar com quem você quiser, não ter que aturar maridos espancadores, não ser obrigado a sustentar mulheres de que você não gosta mais, não ser obrigado a rezar se você não quiser, poder rezar se você quiser para o deus que você quiser, não ter que achar seu governante “o salvador do povo”.

Enfim, coisas básicas, não? Mas o fundamentalismo islâmico (que não é a mesma coisa que islamismo) não pensa assim.

Se, por um lado, não se pode afirmar que o Egito vá virar o Irã (que alguns ainda acham ótimo porque “enfrenta o imperialismo americano”… risadas…), por outro, negar o risco do fundamentalismo islâmico na região em questão é uma piada. Pura má fé teórica.

Risco aqui não significa apenas tomar o poder, significa minar a sociedade, enterrando as pessoas nesse “pântano de deus” onde fundamentalistas crescem como praga na lama. Essas pessoas que estão nas ruas querem emprego. Se eles falam em “liberdade”, fazem-no porque aprenderam com o Ocidente capitalista malvado. Não estão movidos por ideologias de Maio de 68. Espera aí… qual era mesmo a ideologia? Reclamar da TV, do cinema, de ter que arrumar o quarto, de ter que fazer prova na faculdade?

Que tal o Líbano, que virou refém do Hizbollah (o partido de deus), esse grupo muito pacifista e democrático? Ou a irmandade islâmica do Egito, que está “gozando” com tudo isso? E os democráticos do Hamas? Que tal mandar um desses populistas de esquerda passar uns dias com eles para discutir “liberdades individuais”? E se o voto direto por lá eleger outro Hamas?

Muitas análises são feitas a partir do que em filosofia se chama “wishful thinking” (pensamento contaminado por “desejos escondidos”). Muita gente projeta sobre esses fenômenos seus pequenos sonhos de grandeza teórica.

Esses países não têm a divisão moderna entre religião e Estado. Negociar com eles é negociar com o Islã, não nos enganemos. O necessário é falar com o Islã e seus líderes, a fim de “isolar” a praga do fundamentalismo.

O modelo de produção e disponibilização de conhecimento em que se baseia a Wikipédia pode ser caracterizado por alguns termos: colaboração entre usuários, pelo trabalho em rede, produção difusa de conhecimento, constituição de uma comunidade colaborativa, gratuidade no acesso, gestão e moderação do conteúdo pelo usuário. Este é um novo modelo de produção de conhecimento, informação, cultura e arte que está se viabilizando pela internet e que tem se mostrado a forma fundamental de trabalho neste novo mundo virtual.

Destaco um ponto que foi apenas tangenciado na entrevista com Jimmy Wales, a sabedoria de que se a Wikipedia não conseguir criar um modelo e um sistema que seja divertido para os usuários, o modelo não se sustenta. Este é um ponto importante! Os modelos colaborativos de produção dependem essencialmente de se criar estruturas que atraiam e motivem o usuário, completamente diferente de uma relação assalariada. Ou seja, esta experiência reafirma uma frase me é útil já faz bastante tempo: se não é divertido não é sustentável.

Abaixo reproduzo a mateŕia da Folha de São Paulo com a entrevista a Jimmy Wales.

“A Wikipédia não é mágica, é trabalho duro”, diz fundador

AMANDA DEMETRIO
DE SÃO PAULO

Na calçada da fama dos ícones da tecnologia, Jimmy Wales tem seu lugar garantido ao lado de personalidades como Bill Gates.

Ele ajudou a fundar a Wikipédia, a enciclopédia gratuita que se baseia na colaboração dos usuários, logo no início dos anos 2000. Tempos em que não existiam sites como o YouTube, o Facebook ou o Twitter. Wales falou nesta quinta-feira (17) no Info@Trends, evento em São Paulo, sobre o poder do conteúdo gerado e moderado pelo usuário.

À Folha, ele falou sobre a fundação da Wikipédia, as falhas e qualidades do site e a série de polêmicas que cerca a enciclopédia colaborativa -da pornografia às tentativas de uso político da ferramenta. Veja trechos da entrevista concedida por e-mail.

Folha – Como foi a criação da Wikipédia? Quais fatores do mercado mostraram que vocês estavam na direção certa?
Jimmy Wales – A Wikipédia foi o produto de um projeto anterior, chamado Nupedia, que foi um fracasso. A Nupedia era um projeto baseado em controle e comando, o que não era divertido para os voluntários. Quando eu instalei o software wiki e foi lançada a Wikipédia, nós tivemos mais trabalho feito em duas semanas do que havíamos tido em quase dois anos, no sistema antigo. Naquele momento, eu soube que estávamos lidando com algo grande.

O que mudou no perfil de quem colabora com o site desde a fundação?
Bem pouco! Os colaboradores da Wikipédia geralmente são bem inteligentes, pessoas do tipo geek, com uma paixão por compartilhar seu conhecimento com os outros.

Como você lida com os problemas de conteúdo de cunho sexual ou pornográfico na Wikipédia?
É um assunto bem complexo. De um lado, queremos fornecer informação séria e responsável sobre a sexualidade humana -isso é uma abordagem perfeitamente legítima e educacional. De outro, não queremos nos tornar um lugar no qual as pessoas postam pornografia casualmente. Essa é a parte fácil. A dificuldade está em encontrar um meio-termo, em trabalhar para termos o cunho educacional sem ser banal, especialmente quando nós estamos falando com pessoas de todo o mundo. Existem os lugares que são extremamente liberais sobre sexualidade, como os Estados Unidos e a Europa, e os que são bem conservadores, como a Índia e a China.

Qual sua posição sobre as tentativas de uso político do conteúdo publicado na Wikipédia? Acha certo intervir?
A Wikipédia se esforça para ser neutra. Nós temos uma cultura muito forte de só querer publicar o que é básico e largamente consensual sobre os fatos. E é certo nós intervirmos contra qualquer pessoa que esteja tentando usar a Wikipédia para outro propósito.Jimmy  Wales, fundador da Wikipédia, no evento Wikimania, em 2009

Qual é a principal falha da Wikipédia atualmente e como você pretende combatê-la?
Nesse momento, achamos que a usabilidade do software é a principal falha. Algumas vezes, editar a Wikipédia é mais difícil do que deveria ser, por razões técnicas. Queremos que isso se torne tão fácil quanto usar um programa que faz o processamento de palavras. Estamos investindo bastante em tecnologia para fazer isso acontecer.

Qual a principal qualidade da Wikipédia atualmente?
Para mim, a principal qualidade é a paixão da comunidade de querer tornar os fatos corretos. A Wikipédia não é mágica, é resultado de um trabalho duro. Trabalho duro feito por pessoas que realmente se importam em deixar as coisas certas. Sem isso, não há esperança.

A Wikipédia considera serviços como o Yahoo! Respostas concorrentes? Como vocês lidam com isso?
Não, nós nunca pensamos em termos de concorrência. Nós somos uma comunidade fazendo algo que amamos. Eu espero que as pessoas que estão respondendo às perguntas do Yahoo! Respostas estejam se divertindo. Acreditamos que estamos fazendo algo mais importante.

O que pode dizer sobre a nossa Wikipédia em língua portuguesa?
Eu estive várias vezes no Brasil e conheço pessoas da Wikipédia em português. O português sempre foi uma das nossas línguas mais fortes, com muita participação do Brasil. Eu acho que sempre houve uma competição saudável entre a Wikipédia em português e a Wikipédia em espanhol.

Você é uma personalidade do mundo da tecnologia e tem influência sobre as pessoas. Quem você enxerga como concorrente na condição de formador de opinião?
De novo, eu não penso em termos de competição. Não estou tentando acabar com ninguém. Estou apenas tentando fazer algo em que eu acredito e fazer isso bem.

SAIBA MAIS SOBRE JIMMY WALES

NASCEU em agosto de 1966 no Alabama, nos EUA.
ESTUDOU finanças, área em que é bacharel e mestre; deu aulas nas universidades do Alabama e de Indiana.
FUNDOU o portal Bomis em 1996; o serviço funcionava como ferramenta de pesquisa e, por um tempo, vendeu imagens eróticas, mas não deu grandes lucros.
CONVIDOU Larry Sanger, no ano 2000, para participar do seu projeto, uma enciclopédia on-line gratuita que trazia textos de especialistas, a Nupedia.
LANÇOU com Sanger, em 2001, a Wikipédia, um subproduto da Nupedia. Em 2003, Wales criou a Fundação Wikimedia.
CASOU duas vezes e tem uma filha.
ENTROU na lista da revista “Time” das cem pessoas mais influentes no mundo em 2006.

WIKIPÉDIA

CONCEITO É uma enciclopédia on-line, gratuita, colaborativa, disponibilizada em várias línguas e mantida pela Fundação Wikimedia
TAMANHO 15 milhões de artigos
CRÍTICAS Como a enciclopédia é baseada em conteúdo publicado pelos próprios usuários, os críticos da ideia questionam se o material é tendencioso, consistente, confiável e preciso
POLÊMICAS Jimmy Wales teria apagado fotos de todos os sites da Wikimedia que pudessem ser interpretadas como pornográficas. Alguns artigos também geram polêmica sobre se as descrições estão sendo usadas para fins políticos
SITE wikipedia.org

Fonte: Wikipédia

Diante da última crise econômica mundial, Saramago escreveu em seu blog, em 7 de abril de 2009:

“A mentalidade antiga formou-se numa grande superfície que se chamava catedral; agora forma-se noutra grande superfície que se chama centro comercial. O centro comercial não é apenas a nova igreja, a nova catedral, é também a nova universidade. O centro comercial ocupa um espaço importante na formação da mentalidade humana. Acabou-se a praça, o jardim ou a rua como espaço público e de intercâmbio. O centro comercial é o único espaço seguro e o que cria a nova mentalidade. Uma nova mentalidade temerosa de ser excluída, temerosa da expulsão do paraíso do consumo e por extensão da catedral das compras. E agora, que temos? A crise. Será que vamos voltar à praça ou à universidade? À filosofia?”

Falei em um post do dia 13/06 sobre o avanço do conceito de direito econômico. No entanto, há uma confusão de significados e entendimentos para este termo. Primeiramente há um significado jurídico para este termo, relativo às “normas jurídicas que regulam a produção e a circulação de produtos e serviços, com vista ao desenvolvimento econômico do país jurisdicionado, especialmente no que diz respeito ao controle do mercado interno, a luta e disputa lá estabelecida entre as empresas, bem como nos acertos e arranjos feitos para explorarem o mercado” (Wikipedia, verbete: direito econômico). O outro entendimento se assemelha mais ao conceito que eu quis me referir e diz respeito aos direitos sociais dos trabalhadores em uma economia capitalista. É a partir deste segundo entendimento que foi criado o chamado Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, criado em 16.12.1966, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que só foi ratificado pelo Brasil em 24.01.1992. Os direitos econômicos, neste documento, referem-se à produção, distribuição e consumo de riqueza, visando disciplinar as relações trabalhistas, como as que preveem a liberdade de escolha de trabalho (art. 6º), condições justas e favoráveis, com enfoque especial para a remuneração justa, que atenda às necessidades básicas do trabalhador e sua família, inclusive, sem distinção entre homens e mulheres quanto às condições e remuneração do trabalho, higiene e segurança, lazer, descanso e promoção por critério de tempo, trabalho e capacidade (art.7º), fundar ou se associar a sindicato e fazer greve (art.8º), segurança social (art.9º).

Mas não é a partir deste conceito que me refiro aos avanços do campo dos direitos. Me refiro a um conceito que tem tangenciado o uso por alguns autores da expressão democracia econômica. É um conceito que vai além da relação trabalhista, se assemelha mais ao direito de todos terem condições de produzir e consumir de forma autônoma, não necessariamente por meio de uma relação trabalhista e a partir da estrutura produtiva de terceiros. Está ligado a este conceito o direito ao acesso a crédito, à organização , à associação produtiva, ao reconhecimento institucional, à comercialização, à instrução e formação profissional. Ainda não tenho bem formulado este conceito…